Coluna: FILOSOFANDO com Manoel Lopes



Manoel Lopes
LIBERDADE: UMA CONDENAÇÃO.
Por Manoel Lopes

Jean-Paul Sartre.


Dostoiévski escreveu: “Se Deus não existisse, tudo seria permitido”. Aí se situa o ponto de partida do existencialismo. Com efeito, tudo é permitido se Deus não existe, fica o homem por conseguinte, abandonado, já que não se encontra em si, nem fora de si, uma possibilidade a que se apegue. Antes de mais nada, não há desculpas para ele. Se, com efeito, a existência precede a essência, não será nunca possível referir uma explicação a uma natureza humana dada e imutável; por outras palavras, não determinismo, o homem é livre, o homem é liberdade. Se, por outro lado, Deus não existe, não encontramos diante de nós valores ou imposições que nos legitimem o comportamento. Assim, não nem atrás de nós, nem diante de nós, no domínio luminoso dos valores, justificações ou desculpas. Estamos sós e sem desculpas.
É o que traduzirei dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si próprio; e, no entanto, livre, porque uma vez lançado ao mundo é responsável por tudo quanto fizer. O existencialista não crê na força da paixão. Não pensará nunca que uma bela paixão é uma torrente devastadora que conduz fatalmente o homem a certos atos e que, por conseguinte, tal paixão é uma desculpa. Pensa, sim, que o homem é responsável por essa paixão. O existencialista não pensará também que o homem pode encontrar auxílio num sinal dado sobre a terra, e que o há de orientar; porque pensa que o homem decifra ele mesmo esse sinal como lhe aprouver. Pensa, portanto, que o homem, sem qualquer apoio e sem qualquer auxílio, está condenado a cada instante a inventar  homem...

SARTRE, Jean-Paul. O existencialismo é um humanismo. In: SARTRE. Tradução de Vergílio Ferreira. São Paulo: Abril Cultural, 1973. P. 15 – 16. (Os pensadores)

Comentários

  1. Parabéns pelo testículo, mas me permita discordar do tema: "LIBERDADE: UMA CONDENAÇÃO". Pelo contrário, em Sartre a liberdade é o que o ser humano tem de mais valioso, o homem está condenado a ser livre, ele só não é livre para deixar de ser livre. Tanto que ele e Dostoiévski ao negarem a existência de Deus querem que o homem/mulher assumam a sua sujeitude de seres jogados no mundo. Não tendo Deus eles, nós, temos que assumir a nossa existência por que ela precede a essência. O ser humano ao assumir a sua maioridade significa que, reconhecendo-se livre, ele percebe que não é apenas o que escolheu ser, mas também um legislador, que ao escolher escolhe também toda a humanidade. O indivíduo se angustia porque se vê numa situação em que tem de escolher sua vida, seu destino, sem buscar apoio ou orientação de ninguém (SARTRE, 1946: 8). Com isso, o homem percebe o tamanho de sua responsabilidade e se angustia, pois ao mesmo tempo que toma decisões pensando em si ele também é obrigado por toda a humanidade.

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