Pinheiro: nome de consenso em 2012 pode não ser do PT Publicada: 04/04/2011 07:01| Atualizada: 04/04/2011 07:00

Osvaldo Lyra - EDITOR DE POLÍTICA

O senador Walter Pinheiro (PT) mal se familiarizou com a rotina do Senado e já dá sinais de que não descuida da atenção sobre Salvador. Ao defender a construção de um nome de consenso para as eleições de 2012, no Palácio Thomé de Souza, o petista admite que esse nome pode ser definido de fora do PT. “Se a gente se fechar nas prévias para impor um nome aos outros partidos, nós vamos terminar quebrando a cara”, advertiu. Nesta entrevista à Tribuna, o senador disse ainda que não cabe ao PT ocupar espaços no governo João Henrique e que “ninguém sozinho será capaz de adotar um remédio para salvar Salvador”, num recado ao aliado João Leão, do PP.
Tribuna - Seu nome ganha força para 2012. Confirma movimentação nesse sentido, inclusive, por parte do próprio PT?
Pinheiro –
  Eu tenho obrigações com Salvador que, além de ser minha cidade, é uma cidade que nos deu uma votação expressiva. Então, eu vou continuar batalhando, me empenhando, vou continuar promovendo o debate sobre desenvolvimento, melhorias de condições de vida da nossa cidade, que, por sinal, foi muito degrada ao longo dos anos pelas gestões, mas eu quero fazer isso por Salvador a partir do Senado. Portanto, pretendo, como senador da República, interferir e ajudar na eleição de 2012 em Salvador e em mais 416 municípios baianos. É natural que setores do meu partido possam até olhar e trabalhar o nosso nome. Mas para ser candidato a prefeito de Salvador, neste momento, deveria ser um nome que a gente pudesse costurar com essa mesma frente ampla que apoiou a reeleição de Wagner. Quero contribuir para encontrar esse nome. Contribuir na campanha, na elaboração do governo. Vou contribuir como senador da República.
Tribuna – O PT pode rachar e decidir o candidato através de prévias, ou vocês vão conseguir construir o consenso?
Pinheiro –
Acho que o fundamental é a gente ter a mesma pressão de 2008, de não ter prévias, ter uma lógica para construir um nome. O PT é o maior partido da base do governo, portanto, tem uma tarefa enorme de dar o exemplo para fora, fazendo as coisas por dentro. É importante que o nome possa ser escolhido num nível de conversa, de identificação, para depois encaixar esse nome, talvez com um de outro partido, senão a gente fica querendo impor um nome nosso aos outros partidos, dizendo que é o nosso que deve disputar 2012. Se a gente se fechar nas prévias para impor um nome aos outros partidos, nós vamos terminar quebrando a cara.
Tribuna – O que o senhor sugere então?
Pinheiro –
Eu acho que é importante a gente manter essa primeira decisão, de construir um nome que agregue e que, de certa forma, una todos os partidos que estão na base do governo Wagner. Depois disso, vamos ver como é que a gente trabalha internamente com amadurecimento para discutir um nome bom para essa disputa de Salvador. Volto a insistir, eu quero ajudar a encontrar esse nome. Não significa dizer que eu estou fugindo do debate. Eu estou afirmando efetivamente qual é o local onde eu me encaixo neste momento, que é exatamente nessa costura, na discussão interna, para que esse nome possa ganhar a eleição e fazer um bom governo em 2013. Portanto, eu quero continuar como senador.
Tribuna – Além do PT, o PP, PCdoB e o PSB admitem lançar nomes ao Thomé de Souza. Essa fragmentação da base de Wagner não favorece uma candidatura única das oposições?
Pinheiro –
  O que é que nós vamos ter de pressão em 2012? Primeiro, a reforma eleitoral, que incidirá efetivamente nas eleições de 2012. O PSB e o PCdoB, por exemplo, já fizeram opção de sair com chapas próprias para deputado estadual em 2010. Portanto, esse cenário pode se repetir em 2012. É por isso que eu estou insistindo, o importante é que tenhamos a capacidade de agregar para construir um programa como este que está no estado, porque Salvador precisa disso. Salvador precisa de um remédio extremamente forte e eu acho que nenhum partido sozinho será capaz de adotar uma postura de superar essa degradação que a cidade vem passando desde as últimas gestões. É importante que a gente una essas legendas, que façam uma frente ampla. É natural que os partidos queiram disputar. Então, se a gente conseguir dialogar e, nesse diálogo a gente não desprezar o fato de o governador exercer um papel importante, aí, sim, nós poderemos formar a mesma frente que apoiou Wagner em Salvador.
Tribuna - Acredita que o PP o apoiaria (para Muniz assumir no Senado), ou eles tentarão ganhar força e construir uma candidatura para suceder João?
Pinheiro –
Ainda que Roberto Muniz seja meu suplente, eu diria que o debate com o PP não é um debate só da ocupação do espaço. São políticos experientes e sabem que esse tipo de pressão não teria nenhuma viabilidade. Acho que a possibilidade de governar com um nível de coalizão que eles participam no estado têm influenciado na apresentação do meu nome, na expectativa de governar da mesma forma que nós fizemos no governo. Além disso, eu volto a insistir que quero continuar contribuindo, inclusive com o PP no ministério, onde ele atua. Se o partido tem dito isso, já é um bom sinal de que o PP já admite continuar na frente, também agora em Salvador, e, portanto, que o PP pode apoiar um nome do PT para ser candidato à Prefeitura de Salvador. O fato de eles (o PP) estudarem um nome - agora, mais do que nunca, que o atual prefeito faz parte do quadro deles - é natural.
Tribuna – O senhor falou em remédio... Acredita que Leão ajudará a salvar a cidade?
Pinheiro –
Leão tomou para si uma tarefa grande. Eu acho que ele também é sabedor - ele tem me procurado - que, mesmo sendo leão, ele não está indo para uma selva. O leão é o rei da selva e Salvador não é uma selva. Então, o rei não vai conseguir consertar Salvador sozinho. Ele tem compreensão disso, ele sabe que a gente precisa dialogar, ele tem buscado isso, dialogar com o governo do estado, que nunca negou absolutamente nada a Salvador. O PP tem uma tarefa enorme que é tentar, em conjunto, mudar a forma prática e o jeito de governar a cidade. Nós estamos falando do sétimo ano de João Henrique (PP) à frente de Salvador, então, já está entrando na rota do fim. É até de se elogiar esse esforço do PP, mas agora vai ter que ser um esforço de dialogar, inclusive com os vereadores na cidade. O próprio Leão reconhece e disse que a posição dele não é de pressionar ninguém, mas ouvir as pessoas, de buscar ajuda. E ele vai ter sucesso na medida em que tiver a capacidade de cada vez mais dialogar e ouvir as partes. Ninguém sozinho será capaz de adotar esse remédio para a solução de Salvador.
Tribuna – A ida de João Henrique ao PP o aproxima do governador. O PT municipal resiste em apoiá-lo. Qual o seu posicionamento diante disso?
Pinheiro –
Eu diria que esse mesmo remédio serve para Lauro de Freitas. Por que que o PP resistiu tanto em apoiar Moema em Lauro de Freitas? Porque tem questões locais que se consolidaram antes da aliança estadual. Portanto, você tem situações que são próprias da política da esfera local, então, é extremamente correta a postura adotada pelo diretório municipal. A bancada tem seu direito de crítica a um gestor municipal, vai continuar tocando da mesma forma que a gente vem tocando, entendendo que tem um aliado que está dentro do governo, portanto vamos conversar com esse aliado, mas vamos manter a postura porque é fundamental a gente continuar lutando e buscando investimentos e melhorias para a cidade e para nosso povo. Além do que, eu acho que o PT municipal não quer ocupar espaço no governo. Nosso partido pode ajudar Salvador sem necessariamente estar ocupando cargos. Eu acho que a gente pode continuar ajudando a cidade e até dialogando. Nós vamos, inclusive, buscar junto ao governo ações  para ajudar.
Tribuna – Incomoda o crescimento do PP no estado? É a repetição da história vivida com o PMDB?
Pinheiro –
Não. Um raio não cai no mesmo lugar duas vezes. Se cair duas vezes no mesmo lugar, agora a gente botou um senhor para-raio. A gente já está vacinado. Já teve o primeiro, sentiu o impacto e se vacinou. Acho que, pelo contrário, a gente não pode ter a visão de que nenhum partido pode crescer, senão fica maior do que a gente, vai tomar o lugar da gente. Se a gente pensar assim, a gente acaba ficando pequeno. Eu quero que PP, PCdoB, PSD, que está surgindo, possam vir com força para ajudar nosso governo. Com representação em diversas casas, com capilaridade, com participação de vereadores e de prefeitos, para que a gente tenha possibilidade de continuar governando esse estado e ao mesmo tempo fazendo uma relação com o governo federal, para a gente continuar fazendo a Bahia cada vez melhor.
Tribuna – O PSD vem, justamente, para contrabalancear com o PP, que tem conseguido cada vez mais musculatura. Isso pode dar um freio no PP?
Pinheiro –
Não porque, na realidade, se você olhar o que tem ocorrido com a forma como o PP tem se estabelecido, como ele tem atraído prefeitos, parlamentares e filiados de um modo geral, é diferente. Então, ele ocupa um espaço que é um espaço que não necessariamente era do PT. Não é uma tentativa de esvaziar o PP. Eu acho que é uma opção de diversos militantes e ocupantes de cargos públicos a partir da própria questão da legislação, de problemas com a ausência da janela partidária, então, o PSD acaba virando uma opção, aparentemente individual, mas depois ela se consagra como algo mais coletivo. Não é da índole do governador Jaques Wagner incentivar construção de partidos, mandar gente para ali para aqui, não é da linhagem política dele como forma de tentar esvaziar alguém ou tentar enfrentar alguém. Portanto, o surgimento de um partido como o PSD se dá exatamente a partir das opções de cada um. Se você olhar, por exemplo, há uma maioria que sai de outros partidos que não do PP. Tem gente do PT, inclusive, que vai para o PSD. Pessoas que estavam incomodadas no nosso partido e gostariam de ir.
Tribuna – E quanto à mobilidade para a Copa do Mundo. Ônibus ou trens urbanos? Qual o mais viável, já que a Copa do Mundo e das Confederações se aproximam?
Pinheiro –
Primeiro que o tempo é determinado por dois fatores. Você vai tratar de uma obra de engenharia, portanto, uma obra de engenharia determina exatamente isso. Quer um exemplo? O Hospital do Subúrbio. Lembra da briga? O Hospital do Subúrbio começou na minha campanha a prefeito de Salvador, inclusive, na época, com dificuldade para sair a licença, que só saiu no final de 2008. Quando muitos até diziam que o Hospital do Subúrbio era uma coisa eleitoral. A obra efetivamente começou em 2009. No final de 2010 nós estávamos entregando o Hospital. Todo mundo dizia que era impossível. Então, a engenharia, aplicação de recursos, determinação com a obra, então, o modal escolhido, o modelo de mobilidade escolhida para a cidade, ele será exatamente nesse critério. Disposição e vontade do governo do estado e do governo federal de aportarem recursos para realizar essa obra. É bom que todo mundo fique sabendo disso. E outra, metrô no Brasil inteiro e trens sempre foram administrados pelo estado ou pela União. Salvador foi a única cidade no Brasil que tomou a atitude completamente estapafúrdia, chegou lá e aceitou do governo federal receber os trens, por exemplo do subúrbio, que criou uma empresa para administrar. Isso foi um erro.
Tribuna – Mas esse foi um erro imposto pelo próprio governo federal.
Pinheiro –
Foi, mas por que Recife não aceitou, por que Belo Horizonte não aceitou? Essa mesma tentativa fizeram em Recife, em Belo Horizonte, eu acompanhei a criação do metrô de Belo Horizonte na Comissão de Orçamento (da Câmara). O pessoal brigou para não municipalizar e BH tem um orçamento que é mais do que o dobro do de Salvador. O orçamento de lá é de pouco mais de R$ 5 bilhões e o daqui é algo em torno de   R$ 2,5 bilhões. Então o que faltou foi isso. Alguém chegar e dizer ‘não, vou usar de pressão forte, mas vou usar’. O governo federal deveria ter tratado Salvador do mesmo jeito, não achar que poderíamos assumir. Assumimos achando que o governo federal ia passar recursos para fazer umas obras lá no subúrbio. Recuperou um pouco os trilhos ali e depois?
Tribuna – Pensando de forma metropolitana, ônibus ou trens?
Pinheiro –
Eu defendo hoje a adoção do sistema de trilhos. Eu já tenho ônibus na cidade. A gente tem um trem, em minha opinião, tem que continuar, melhorar e se estender. O trem suburbano deve fazer o trajeto de Alagoinhas até Salvador. Hoje a gente podia pensar nisso, pelo menos por etapa, até Camaçari e depois vai estendendo. Hoje o trem não chega na Calçada porque roubaram os trilhos de Paripe até Simões Filho. É importante que a gente reveja isso. O segundo ponto: eu não preciso tirar trilhos de Salvador, pelo contrário. Eu quero usar trilhos na Paralela, quem sabe, no futuro, de Pirajá até Simões Filho. Tirando a Rodoviária daquela região do Iguatemi, jogando mais lá para aquela região da BR. Então, você precisa entrar por Salvador, até para dar sentido a esses 12 quilômetros, nós só temos seis, podendo chegar em 12. Mesmo com 12, precisamos ter uma interligação com outro sistema de trilho, que pode ser metrô, pode ser VLT, que dê sentido. Metrô com 12 quilômetros não servirá. O importante é que eu faça, que eu aproveite essa oportunidade. Aí a gente entra no rol da Copa, que tem que ser uma janela de oportunidade. Esse é o debate que e importante a gente fazer.
Tribuna – Mas este debate não está atrasado, senador?
Pinheiro –
Está atrasado porque ficaram com a mentalidade de que se não botasse ônibus, não viabilizava.  Os ônibus continuarão sendo utilizados como corredores de alimentação. Não vamos tirar nenhum ônibus de circulação, pelo contrário. Pegue um engarrafamento ali na Paralela e veja: tem mais ônibus ou é carro? São duzentos mil veículos circulando por dia na Paralela. Na realidade, o que está faltando é isso, é a gente entender que não dá para botar mais ônibus e carros. A gente fica nessa timidez e não vai para o governo federal para dizer: Salvador precisa aproveitar a janela de oportunidades da Copa. A gente precisa trazer para a cidade uma solução definitiva e não só para até a Copa. Esse é o momento. Até porque, a Copa vai embora. Salvador, o seu povo, os turistas ficam.
Colaboraram: Fernanda Chagas e Romulo Faro

Comentários