C O N V I T E A O P E N S A R: TODO(A) PROFESSOR(A) É IMORTAL: (A importância do reconhecimento e título de imortal ao professor aposentado)


Por José A. Nunes 


Em meados de 2002, importantes meios de comunicação do Brasil e do mundo noticiaram intensamente a eleição do escritor Paulo Coelho a Academia Brasileira de Letras. Ele que, durante décadas, foi criticado por seus livros tidos como esotéricos, de autoajuda e até desprovidos de valor literário, por alguns, estava finalmente sendo içado ao rol dos imortais. 

Ao aproximar a data da posse as críticas ácidas de outrora dirigidas ao notável escritor, já não apresentavam tanto acídulo. Todos só queriam saber do cerimonial. O mundo queria saber, inclusive os antigos críticos, tudo sobre a sua posse. O número da sua cadeira, quais os imortais a ocuparam antes, qual o escolhido para recepcioná-lo. Pareciam pecadores quando deixam o confessionário. 

Aquelas manifestações eram justas e chegavam em tempo de reparar algumas das injustiças cometidas àquele escritor que tem suas obras editadas em mais de 168 países, traduzidas para mais de 81 línguas e com mais de 350 milhões de livros vendidos. 

A merecida posse do autor de o Alquimista, dentre outras, me fez pensar nas contradições humanas e nos seus enganos. Aquele momento não era apenas daquele mais jovem imortal da academia, mas de todos aqueles/aquelas que não desistiram por causa das críticas. Também daqueles (as) que não as suportaram e deixaram seus trabalhos pelo caminho. 

Depois daquele dia compreendi melhor a imortalidade e os imortais. Pensei de imediato não em Paulo Coelho, confesso, mas naqueles professores/professoras que dedicaram e dedicam suas vidas a educação e depois de aposentados são relegados ao esquecimento. 

Muitos, no momento de suas merecidas aposentadorias, sofrem humilhações e descasos de toda ordem, quando deveriam ser tratados com nobreza e gratidão. Mais. Deveriam receber, naquele momento de dever cumprido, o TÍTULO DE IMORTAL pelos relevantes serviços prestados a educação.

Diferentemente daquela pompa cerimonial, dada àquele mais jovem imortal da academia, a dos professores(as) dos rincões do país poderia ser mais simples, mas de majestoso significado. Em todo município da federação deveria ter um memorial reservado ao professor aposentado. Um espaço onde ficaria exposto um livro, in memoriam, com os principais feitos e lembranças biográficas do docente. Teria ainda a sua foto com o ano de início e término de sua jornada para que os visitantes contemplassem o rosto e a história de um verdadeiro imortal. E, abaixo da foto, o seguinte letreiro: ‘sobre os ombros deste(a) gigante, muitos conseguiram enxergar melhor e mais longe o mundo’. 

Aquele espaço - depois de materializado e abençoado - em pouco tempo receberia cheiro e status de sagrado. É que alguns ambientes não precisam de muita pompa para alcançar suntuosidade. A sua grandeza e valor nascem dos seus homenageados. Contudo, ainda era pouco para esses gigantes da educação. Além do espaço memorial seria necessário um dia de feriado garantido em lei para que os moradores também participassem. Um dia para lembrar e homenagear as/os imortais da educação do município. 

Talvez um ou outro professor (a) não se sinta hoje um imortal e nem galga tal honraria. Devido a falta de valorização, de apoio, de reconhecimento ou, simplesmente, por ser um desprendido. A esse docente, se houver, ofereço um mergulho nas palavras do saudoso e imortal Rubem Alves (1994, p.04): “Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor/professora assim, não morre jamais”. 

Se ainda houver algum professor(a), que não se acha imortal, convido-o ao seguinte exercício: olha para o passado, para o seu tempo em sala de aula e recorda dos seus professores, principalmente, aqueles que já não estão entre nós. E, depois de um profundo respiro na alma responda; eles são ou não imortais? Merecem ou não tal atribuição e homenagem? Saiba, pois, que os seus alunos e compatriotas terão os mesmos sentimentos por você. Principalmente, aqueles que te acham “severo(a)” demais às vezes. É que, infelizmente, alguns reconhecimentos e sentimentos só nos alcançam postumamente.

Todo professor(a) merece ser reconhecido(a) pelo o que faz no dia a dia, mas aquele(a) que se aposenta no ofício da docência merece o título de imortal. Merece não pela obra de reconhecido valor literário, exigida pela ABL, que alguns ainda não escreveram. Nem pelos tratados filosófico-políticos que ainda não publicaram. Nem pelas “Mona Lisas” que ainda não pintaram. 

As obras desses imortais são muito mais preciosas e de valor imensurável. São obras escritas, pintadas, gravadas na alma de homens, mulheres e crianças espalhadas pelos vários cantos dos grandes e pequenos municípios. Essas podem ser encontradas nas prefeituras, nas câmaras legislativas, nos hospitais, nos campos, nas igrejas, nos lares, nas ruas da cidade. Onde houver alunos e/ou ex-alunos exercendo alguma atividade no município está, então, a razão da imortalidade de um(a) professor(a).

Todo professor[a] aposentado[a] já é digno do título de imortal. O que vai garantir a sua memória viva nos séculos vindouros é o conjunto da obra realizada nos vinte e cinco ou mais anos de dedicação. O Apóstolo Paulo deixou uma receita pronta que continua viva [imortal] para quem anseia que seu trabalho seja duradouro: “ainda que conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda a fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria”. 

Assim sendo professor/professora, sinta-se já agora imortal! Sinta-se merecedor(a) das homenagens e honrarias. Mas, deseje que a sua imortalidade ecoe pela vida e se estenda pela história. Que os seus alunos e compatriotas ao contemplarem a sua foto na parede daquele memorial simples e sagrado - que em breve emergirá país afora – sejam transportados ao tempo de seu ofício em sala de aula, lembranças que o tempo não apagam. Que seja experiência similar àquela quando nos deparamos em frente à Mona Lisa ou quando lemos Miguel Cervantes e Victor Hugo. Experiência que nos tira do nosso mundo e quando voltamos já não somos os mesmos, e a nossa realidade também já é outra.


José Alves Nunes é Bacharel Licenciado em Filosofia pela PUC-Minas e Filosofia da Educação pelo ISTA



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