CONVITE AO PENSAR: OS MOTIVOS DO PEDIDO DE EXONERAÇÃO DA PROFESSORA MARIA D’AJUDA

                                                                                                         Por José A. Nunes*



Diante das notícias sobre a saída da professora Maria D’Ajuda Santos Teles da Secretaria de Educação, precisamos conhecer pelo menos três motivos para entender todo o contexto da sua exoneração. Antes de apresentá-los, gostaria de lembrar que assim que o prefeito Fábio Gusmão assumiu e indicou seus secretários no início de 2021, reconheci por meio de artigo que eram bons nomes. Exaltei as TRÊS MULHERES SECRETÁRIAS, e agora exalto bem mais a professora Maria D’Ajuda. Ela era a pessoa certa, no lugar certo e fazendo a coisa certa pela educação do município. 

O seu legado, diferentemente do que disseram alguns, é grande e diferenciado de todos os outros secretários de educação que já tivemos. Foi apenas um ano, mas que valeu por quatro ou mais. Neste curto período os profissionais da educação tiveram que se reinventar por conta da pandemia. As pressões e as exigências chegavam da esfera federal, estadual, municipal e as decisões precisavam ser tomadas. Alguns pressionavam cobrando a volta do ensino presencial, outros o ensino a distância e aqueles que cobravam o sistema híbrido. Sem esquecer dos protocolos sanitários, o distanciamento social, a saúde dos professores, dos alunos e demais profissionais que precisavam ser colocados em primeiro plano. Um ano de verdadeira guerra pandêmica também para a secretária e os demais profissionais da educação que a enfrentaram corajosamente, mas sobre seu legado falarei mais em outro artigo. 

Vamos aos motivos que levaram a competente Secretária a pedir exoneração. Um deles ouvimos da própria docente quando disse que “pretende dedicar mais tempo ao projeto de doutorado”. Fiquei a pensar depois desta informação: Quantos profissionais e graduados em nossa cidade têm ou estão fazendo doutorado? Confesso que não tenho o número exato, mas acredito que além de Maria D’Ajuda podemos contar nos dedos da mão esquerda. Daí mais uma certeza da escolha acertada do prefeito ao nomeá-la Secretária de Educação do Município.

Outro motivo que a secretária não disse, mas conseguimos conjecturar é que a oferta salarial para assumir uma pasta tão desafiante não é atraente para a profissional da educação que tem 60 horas/aula (Estado e Município). Não compensa financeiramente e quem aceita, faz por amor ao ofício e à classe que com ela “conseguiu alinhar a carga horária de alguns professores para 40h”. Sem esquecer da responsabilidade que aumenta espantosamente e a carga horária diária salta para quase 15 horas ou até mais, exigindo da Secretária disponibilidade exclusiva ao município.

Por fim, o terceiro motivo e talvez o mais grave. A professora Maria D’Ajuda enfrentou oposição não da oposição, mas de alguns no próprio grupo, o chamado fogo amigo. E a oposição não era contra a professora, mas por que estavam de olho na Secretaria de Educação. Essa oposição de alguns no próprio grupo não foi somente contra a professora, também tem sido praticada a outros secretários de origem humilde. Na verdade, acredito que a insatisfação velada seja contra o jeito de administrar do prefeito que não aceitou fatiar o seu governo aos clãs políticos e familiares da nossa cidade. Antes do prefeito Fábio Gusmão, esses clãs se achavam no direito de indicar os cargos de primeiro, segundo e até do terceiro escalão.

Esses “pequenos feudos” (conceito medieval) eram prometidos antecipadamente aos “senhores feudais” (idem) que se achavam mais prestigiados quando podiam “dominar” alguns feudos, principalmente educação, saúde, administração e finanças, entre outros. Essa prática falida, comum em outros governos que faliram, o prefeito parece não aceitar até aqui e, ao indicar a nova secretária de perfil diferente de Maria D’Ajuda, responde em tom direto que não pretende se curvar às práticas obsoletas desses “senhores feudais”, que são amigos do poder e de suas benesses. 

Por conta desses e de outros motivos, é que acredito que a quase doutora em educação, professora Maria D'Ajuda, ao pedir para deixar a secretaria escolheu a "melhor parte, e essa não lhe será tirada". Quanto a nós, cidadãos, perdemos uma excelente profissional que pertence a um seleto grupo, o dos verdadeiros doutores no sentido stricto da expressão latina.

*Bacharel Licenciado em Filosofia pela PUC-Minas; Filosofia da Educação pelo ISTA; Cursou dois anos de Teologia; Especialização em Terapia Cognitivo Comportamental e Lideranças para a Era Digital - Autor do livro 'O Camponês e o Naturalista' recém lançado pela a Amazon e a Uiclap.

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