Professor Naturalista

 


                                                             Por José Alves Nunes

Um autêntico líder Naturalista não tem a pretensão de libertar e tão pouco transformar ninguém. O seu esforço é o de fazer a águia domesticada, pelo camponês, voltar a ser o que ela sempre foi e nunca deixou de ser.


(...) Ao entrar na casa do camponês e colocar os olhos na águia domesticada, o naturalista diz: “Esse pássaro aí não é galinha, é uma águia”. Diante da truculência medíocre do camponês ele permanece firme na sua convicção, “ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia e esse coração a fará um dia voar às alturas”.

O professor, na dimensão mais profunda, é um autentico naturalista, que enxerga o aluno sempre como águia. Principalmente aquele aluno que foi negado, subjugado e domesticado no âmbito familiar, escolar ou religioso. Enxerga nele para além da aparência imediata e sabe que mesmo fragilizado é um ser em potência.

O mais maravilhoso, é que o Professor Naturalista percebe que muitos dos seus alunos já não têm consciência que são potencialmente infinitos. Por tanto tempo vivendo ‘domesticado’ é difícil continuar acreditando no próprio potencial.

Despertar no ser domesticado a sua consciência adormecida não é tarefa fácil e requer muita habilidade. Mais habilidade que competência, mais jogo de cintura que “força bruta”, mais compreensão que enfrentamento. Porque assim como aquela ave foi destruída de dentro para fora, o da reconstrução será de dentro para fora, mas também de fora para dentro do ser totalmente domesticado.

Professor Naturalista, diferentemente do professor camponês, jamais deixa de acreditar no aluno, e sabe que na vida de alguns alunos somente um milagre é capaz de mudá-los. Mas, sem deixar de fazer a sua parte, a que lhe cabe no processo libertador do outro plenamente negado.

Professor Naturalista não desiste depois de “tentativas malsucedidas”, mesmo quando mal vistas e criticadas. É por natureza determinado e sempre repete para si, amanhã tentarei novamente.

Não se abate ao que falta a escola e nem aos problemas de seus alunos, os assume como seus, mesmo quando não o são. Não se deixa sufocar pelos problemas, porque é uma fonte de esperança e gratuidade. O pensador Leonardo Boff o definiu da seguinte forma: “É um ser concreto, situado, mas aberto. É um ser em potencialidade permanente. Sonha para além daquilo que é dado e feito. E sempre acrescenta algo ao real”.

Professor Naturalista é capaz de devolver confiança aos seus alunos e os libertar de seus cativeiros porque carrega em si a leveza do ser e do conviver. Sabe o tempo todo que seus alunos nasceram para voarem alto e realizarem sonhos grandes e geniais, mesmo que em alguns momentos demonstrem o contrário.

Nenhum outro é capaz de realizar tal feito, exceto o Professor Naturalista, porque não se dá por vencido enquanto a aluno não deixar para traz a condição imposta de domesticado, para alçar voo de águia.


*Texto extraído do livro O Camponês e o Naturalista - entenda quem é você nesta história. publicado pela a Uiclap e Amazon, p. 95-106.

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