Para especialistas, pais precisam trabalhar em parceria com escolas para reverter quadro de esgotamento emocional dos estudantes
Após dois anos de aulas presenciais
interrompidas pela pandemia, a expectativa era de que o ano letivo de 2022
seria de retomada da normalidade das relações escolares. As escolas, no entanto,
se depararam com uma situação inédita de dificuldade de convívio e esgotamento
mental dos alunos. Por isso, a saúde mental é vista como principal preocupação
nesta volta às aulas.
Além das consequências do isolamento da pandemia, as dificuldades de aprendizado acumuladas nesse período trouxeram para os alunos ansiedade, frustração e estresse. Para evitar a repetição desse quadro, as escolas se preparam para trabalhar melhor as questões emocionais.
"O ano passado ainda foi muito atípico. Um ano em que vi muitos alunos com dificuldade na escola, o que gerou muito estresse e sofrimento. Eles chegaram ao fim do ano com dificuldade de serem aprovados, mudando de escola para passar de ano. E, isso traz um desdobramento importante para esse ano letivo", diz o psiquiatra Gustavo Estanislau, especialista em infância e juventude.
Para ele, a frustração com os resultados escolares tende a acompanhar os alunos neste próximo ano letivo de 2023. Situação que é agravada, após a pandemia, quando muitas crianças e jovens perderam autonomia e segurança para lidar com os desafios comuns dessa fase.
"A defasagem é uma realidade em todas as escolas e regiões do país, mas não adianta despejar conteúdo e pressão em cima dos alunos. É preciso flexibilizar as cobranças e desafios escolares para que eles ganhem confiança e possam avançar", diz.
A psicóloga Mara Rossi, que há 15 anos trabalha com adolescentes em fase pré-vestibular, conta ter recebido no fim de 2022 muitos casos de alunos com sintomas de burnout por conta das cobranças escolares e das atividades extras.
"São adolescentes que têm a agenda cheia, acordam e vão dormir com uma série de atividades: escola, reforço, curso de inglês, de redação, atividade física. Tudo vira uma cobrança. Não sobra espaço para o descanso e o lazer, que são necessários em todas as idades", diz.
Para ela, não só as escolas devem ficar atentas com o excesso de cobrança, mas, principalmente, as famílias.
"Bons resultados não são só aqueles que levam um jovem a uma universidade de renome. Bons resultados educacionais são aqueles que formam pessoas saudáveis, que vão saber conviver em sociedade. As famílias também precisam valorizar isso."
Para os especialistas, é fundamental que as escolas encontrem espaços e horários para trabalhar questões socioemocionais e para que os alunos possam relaxar. Eles reconhecem, no entanto, que esse é um desafio já que os colégios são cada vez mais cobrados a oferecer mais conteúdos e disciplinas.
A lei do novo ensino médio, por exemplo, prevê o aumento de 25% do tempo de aula em todo o país.
"São políticas
muito bem-vindas, mas estão sendo implementadas de forma equivocada. Na
prática, elas estão seguindo o caminho inverso do que fazem países
desenvolvidos. Elas retiram os espaços de convivência para colocar mais
conteúdo. Isso não vai se refletir em melhor desempenho, mas em mais estresse e
falta de interesse com a escola", avalia Tognetta.
Folha de São Paulo
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