Caminhos do PMDB.

Coadjuvante, pelo menos nesta análise, que está mais para o nacional do que para o regional. O PMDB é o mais antigo partido após o fim do pluripartidarismo pré-golpe de 1964 para dar lugar ao bipartidarismo. É irmão gêmeo da Arena, com uma diferença fundamental: a Arena nasceu para ser partido de “sustentação” política do regime militar e o a época MDB para fazer oposição. Os dois deveriam encenar o papel do “faz de conta”, de modo que parecesse ao mundo que, se o Brasil tinha um sistema bipartidário, consequentemente era um país democrático. Hoje o PMDB está muitíssimo forte, mas lhe falta nome de expressão nacional. Se o tivesse teria candidato próprio em 2010. Fortaleceu-se mais ainda com as prefeituras que ganhou no ano passado e, agora, ao comandar as duas casas do Congresso, com José Sarney no Senado e Michel Temer na presidência da Câmara dos Deputados. Faço um corte no texto para retornar à ditadura. A Arena cumpriu o seu papel, já o MDB pouco a pouco tomou gosto pela oposição, representou, na medida do possível, uma cidadania mesmo despida dos direitos individuais, inexistentes na época dos generais. Sempre que ousava avançar, no entanto, seus membros no Congresso eram cassados. Assim, o “faz de conta” concebido pelo bipartidarismo se manteve. O MDB, porém, sob o comando de Pedroso Horta e, depois, do deputado Ulysses Guimarães, cresceu. Em 1973, só para chacoalhar, Ulisses se lançou anticandidato à Presidência da República, na sucessão do general Médici para o general Ernesto Geisel. Tinha ao seu lado – como Quixote e Sancho Pança – o corajoso presidente da ABI, Barbosa Lima Sobrinho. O bravo Ulysses, desta forma, pode correr o País pregando o retorno à democracia. Assim, conseguiu, em parte, quebrar o medo que dominava a sociedade civil e começou a aluir os alicerces da ditadura. Claro que, antes que isso tivesse acontecido, houve movimentos de guerrilhas, movimentos de enfrentamento ao poder militar, o trabalho da imprensa, mesmo sob censura, e da Igreja. Enfim, os brasileiros pouco a pouco começaram a dizer “não”. O MDB crescia e a ditadura, na tentativa de impedir, estabeleceu que as legendas teriam que ter no nome “partido”. Num lance de inteligência, Ulysses e seus pares puseram Partido do Movimento Democrático Brasileiro e assim nasceu o PMDB. A Arena virou PDS e o PMDB sucedeu à ditadura. Deveria ser com Tancredo Neves, mas a sua morte deu espaço a José Sarney (vice), que fora presidente do PDS, portanto aliado dos militares. Só no final do regime divergiu. Voltemos à atualidade. Como o PMDB não dispõe de nome para concorrer à Presidência, é, seguramente, o partido que o PT deseja na vice, (com Dilma) e, também, o PSDB-DEM, com José Serra ou Aécio. Virou objeto de desejo para as eleições de 2010. Qual o papel que caberá, então, ao PMDB em 2010? Não se pode assegurar, porque só vidente tenta prever o futuro, ou, como ensinou os mineiros, “o futuro a Deus pertence”. Mas, se não pertencesse a Deus, (esqueçam dos videntes), diria que o futuro pertence ao PMDB, como parceiro inevitável do poder. Diria até que, deixando de lado os palpites, num enfrentamento PT versus PSDB-DEM, para onde o partido pender decide-se a Presidência da República. Aqui na Bahia, e são apenas conjecturas, há o nome de Geddel Vieira Lima, citado nacionalmente como um vice possível. O governador Jaques Wagner, em mera análise, concorda. Para ele, seria um nome para o PT pensar para ser companheiro de Dilma Rousseff. Questiona, exercitando o livre pensar: qual o outro nome que o PMDB teria? Responde: Teria Michel Temer, mas este já está na presidência da Câmara. No governo Lula, o vice, José Alencar, saiu de Minas Gerais. O futuro vice deve ser do Nordeste e o nome de maior expressão é realmente o de Geddel Vieira Lima, acentua o governador. Claro que sua conversa comigo se desenvolveu no sentido amistoso. Como Geddel é desconfiado, saliento que o diálogo surgiu sem outra pretensão. Até porque o ministro poderia imaginar que o cavalo selado seria para permitir que ele galopasse pelo território nacional e, não, pelo território baiano. Conversa amistosa não acontece com o intuito de publicação, mas se encaixa perfeitamente neste texto “Os caminhos do PMDB” porque facilita reflexões sobre o poder que hoje o PMDB enfeixa, e o papel do ministro da Integração Nacional dentro da legenda. Assim, de logo, acentuo que Geddel não deve imaginar que o governador quer vê-lo longe, embora não estivesse errado – porque isso todos os baianos sabem – que Wagner gostaria muito de tê-lo como companheiro de chapa, ele à reeleição, e Vieira Lima ao Senado. Vale um novo corte nesta análise para não ficar na lengalenga regional, provinciana, para demonstrar o grande salto que o PMDB conseguiu dar nesses últimos anos. Para isso foi necessário que deixasse de lado as brigas internas, fugisse da geléia geral para construir um partido que, se não dispõe de nome no momento para lançar à Presidência em 2010, se continuar no seu ritmo de crescimento poderá formar um personagem para as eleições de 2014. Terá apenas com o obstáculo o fato de ter que enfrentar Lula na eleição subsequente à próxima. O PMDB ganhou musculatura política nacional, deixando de ser uma legenda que se espraiava pelo País sem objetivo definido. Se fizer um nome, a legenda mais antiga pós-ditadura, poderá chegar ao sonho que Tancredo Neves e Ulysses Guimarães acalentaram e não conseguiram concretizar. Sarney eu não conto. Foi uma figura do acaso, da fatalidade. Tancredo Neves morreu no Hospital de Base em Brasília e foi sepultado no pequeno Cemitério de São João Del Rey, encravado entre montanhas de ferro. Ulysses foi tragado pelo mar, e seu corpo jamais foi encontrado. O helicóptero que o transportava desapareceu no mar num lugar para ficar marcado na biografia do grande político: a Praia dos Sonhos, na costa de São Paulo.