Virou rotina o ciclo de descaso e inércia com que as autoridades tratam as nossas estradas –, e na Bahia não é diferente. Não conservar e deixar acabar totalmente para depois reconstruir são práticas conhecidas e eleitoreiras de governos do presente e do passado, com isso o custo de uma rodovia vai para a estratosfera. Mas se fosse decentemente pavimentada, não houvesse injunção político-eleitoreira, dependeria unicamente de manutenção, coibição dos excessos de carga e da fiscalização pelos órgãos competentes – no nosso caso o DER-BA e a nível federal o DNIT – o resultado seria outro; contudo, caso fosse totalmente privatizada, estaria sob os auspícios rigorosos da iniciativa privada que, sem dúvida, é mais eficiente que a União. Agora sem a devida observância de preservação e vistoria contínua se gasta entre três e cinco vezes mais do que se gastaria com a manutenção realizada na época oportuna. Contrariar e subverter a lógica das coisas parece mais fácil e melhor, não um privilégio, porém um erro; aí então a história se repete, entra governo e sai governo o método é o mesmo. Paciência, já que postergar é um atavismo creditado ao nosso Brasil Império. Assim foi com Paulo Souto e neste momento com o governo Jaques Wagner que, mesmo com o apoio do presidente Lula, mantém-se em marcha lenta. Tanto é que alguns já o chamam de Wagner Pires, alusão ao ex-governador Waldir Pires. Com isso os prejuízos anuais para um estado tão carente como o nosso alcançam quantias exorbitantes, além, é claro, das dores causadas a milhares de famílias que perdem amigos e parentes em acidentes cada vez mais frequentes, justamente pela incompetência daqueles que deveriam cumprir com suas obrigações e não as fazem.
Devido à precariedade da BA-262, nesta segunda-feira (06/04) um acidente de graves proporções, no trecho que liga Vitória da Conquista a Brumado, nas imediações do quilômetro 14, o motorista de uma Van ao tentar desviar de um buraco não conseguiu retornar, logo se chocou frontalmente com uma Caravan causando a morte instantânea de duas pessoas e mais de 12 hospitalizados, alguns gravemente feridos (acidente só comparável a um outro em maio/2007, na ponte de mão única que liga Tanhaçu a Sussuarana, quando morreram 15 pessoas). Segundo especialistas, trafegar em estradas nestas condições exige muita atenção, gasta-se o dobro do tempo na viagem e resulta em um elevado perigo para quem é obrigado a enfrentar esse desafio, e, ainda, significa um acréscimo de mais de 36% no custo operacional do veículo.
Há coisa de uma semana, eu trafeguei até próximo a cidade de Aracatu; ‘in loco’, pude constatar que o trecho percorrido chega a ser penoso pela destruição da estrada. Por isso, entendo ser normal a indignação dos usuários. Realmente é uma omissão que parece interminável. Quando acontece um acidente com esta proporção chega a causar revolta na população, pois não se entende como o poder público deixa as coisas chegarem a este ponto.
Acredito que é possível eliminar esse caos com um pouco de vontade e um programa de conservação adequado e permanente. Sei também que para isso, faz-se necessário uma profunda reforma do setor, uma vez que envolve aspectos institucionais, financeiros, de gestão e acima de tudo do querer fazer dos nossos representantes. Confio ser uma saída até simples só não enxerga quem não quer ver. Reformulação idêntica, já vem sendo adotada em outros países como a Argentina, Chile, Austrália, Canadá e Nova Zelândia que fizeram contratos de gestão com empresas (públicas ou privadas) para gerenciar a conservação de suas rodovias. Uma implantação desse nível é sustentada através de uma tarifa ou taxa cobrada em conjunto com o preço dos combustíveis, que já existe e vigora em nosso país, constituindo-se assim um fundo a ser aplicado exclusivamente na conservação de vias públicas.
Também é fundamental a nossa participação na supervisão dos recursos arrecadados, até porque, quanto mais transparente for à aplicação, maior será a segurança e satisfação para quem trafega e um custo bem inferior. De outra forma, com a conservação de estradas por meio do pedágio, verifica-se um alto grau de eficiência, no entanto, o custo operacional do pedágio situa-se em patamares que reduzem a receita obtida. Além do que, um sistema assim viabiliza somente as rodovias com grandes fluxos de tráfego e, mesmo não discordando, percebo ser uma boa alternativa, porém não se constitui numa solução definitiva para toda a malha rodoviária do País.
Sinceramente, vejo que a precariedade do patrimônio rodoviário da Bahia e por que não dizer do Brasil é uma das consequências mais negativas para a nossa economia, principalmente pela montanha de dinheiro que ano após ano vem sendo jogado ralo a fora por falta de zelo dos governantes. Recursos esses que poderiam estar sendo reaproveitados ou direcionados para outros setores menos assistidos como saúde, educação ou diferentes demandas sociais,.. mas, por falha no gerenciamento, são perdidos.
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