COLUNA: FILOSOFANDO - AI QUE SAUDADE DO ‘NÓIS’!


Por  Manoel Lopes 
 
A reflexão dessa semana é sobre uma frase que li: Nós temos Neymar, quando na verdade deveríamos dizer: nós temos uma seleção. Aparentemente ter UM jogador como Neymar é mais valioso que um conjunto de jogadores selecionáveis.A Argentina que tinha Messi, Portugal que tinha R7 e o Brasil de Neymar caíram na copa do mundo, da Rússia, por um motivo simples, perderam para EQUIPES, o futebol é um jogo coletivo, fica uma lição na Copa da Rússia...o nós é mais importante do que o eu. Para Ilustrar essa reflexão  faço uso de fragmentos de um texto espetacular do meu amigo Edvaldo Pitanga.

 AI QUE SAUDADE DO ‘NÓIS’!

Edvaldo Pitanga *

(...)Sem muito esforço, no meio do turbilhão de lembranças, o ‘eu’ e o ‘nós’ tomaram forma. Explico.
A nossa iniciação política foi feita à luz dos ensinamentos do Marx e do Lenin, onde o individualismo – o ‘eu’ – era intensamente combatido e execrado porque se chocava com o interesse coletivo – o ‘nós’. E essa compreensão perpassava toda a nossa conduta e o nosso discurso. Era assim, mesmo que a tarefa fosse realizada somente por um(a) militante, na hora da prestação de contas ele/ela dizia: “nós fizemos” ou “nós deixamos de fazer”. Isso consolidava a nossa convicção de que não nos construímos sozinhos, que não conquistamos nada que não fosse fruto do esforço de um grupo – o ‘nós’ – portanto, não cabia a referência no singular – o ‘eu’(...)
Construímos e conquistamos importantes espaços de poder – inclusive a presidência da república – e à medida que essas estruturas são ocupadas por ‘nosso pessoal’, a principio para tocar o projeto de acordo com nosso programa, a coisa muda de figura. Talvez embevecidos com o exercício do poder, por menor que seja – aliás, quanto menor o nível hierárquico ocupada na burocracia, maiores são as demonstrações de arrogância, rispidez e petulância – acabam cooptados (as) e absorvidos (as) pela ideologia burguesa e se afastando da missão e dos objetivos para os quais o conjunto da classe trabalhadora – o ‘nós’ – lutou e depositou confiança para a realizarem a mudança. Dessa forma, o ‘eu’ se agiganta. Isso, quanto ao Estado – nacional e subnacionais.
No meu universo sindical o ‘nós’ pouco está aparecendo nos discursos. O que aconteceu? Não fomos cooptados pelo aparelho autoritário e opressivo do Estado; continuamos a representar os interesses da categoria a que pertencemos e que nos elegeu. Continuamos a discutir e deliberar nas instâncias próprias: congressos, assembleias, diretorias, etc. Por que, então, o ‘eu’ é repetido inúmeras vezes? Necessidade de autoafirmação do (a) dirigente? Afloramento do projeto pessoal – ‘eu’ – em contraposição ao coletivo – ‘nós’? Necessidade de retomarmos a educação sindical classista em nosso meio? Inúmeras perguntas.
Só sei dizer que, embora tenha escrito este texto no singular – ‘eu’ – morro de saudade do ‘nós’.

* Edvaldo Pitanga é sindicalista

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