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Há 50 anos, Brasil e França quase entraram em guerra por lagostas

A curiosa disputa militar aconteceu no litoral pernambucano, no início dos anos 1960, e mobilizou navios e aeronaves militares dos dois países, além de tropas para a divisa com a Guiana Francesa
O motivo da quase guerra foi a pesca irregular de lagostas em águas brasileiras, por embarcações francesas - Foto: Divulgação/ Marinha do Brasil
O motivo da quase guerra foi a pesca irregular de lagostas em águas brasileiras, por embarcações francesas - Foto: Divulgação/ Marinha do Brasil

Há pouco mais de 50 anos, Brasil e França quase entraram em guerra e o motivo desta crise foram as lagostas. A disputa pelo crustáceo levou as duas nações a enviarem navios e bombardeiros militares para a costa pernambucana. O exército nacional também mobilizou tropas para a divisa com a Guiana, território ultramarino francês. O conflito só não aconteceu devido à crise política gerada pela renúncia do então presidente brasileiro, Jânio Quadros.

O motivo de toda esta confusão, última vez que o Brasil quase entrou num conflito militar, foi a pesca irregular de lagostas em águas brasileiras, por embarcações francesas. Os pesqueiros estrangeiros haviam pedido autorização para iniciar pesquisas no litoral de Pernambuco, mas estavam realizando pesca predatória do crustáceo. Quando o governo brasileiro descobriu, ele ordenou a imediata retirada dos barcos franceses, que ignoraram a ordem e iniciaram uma disputa militar entre os dois países.

Engana-se quem acredita que o Brasil não estava preparado para um combate eminente. Documentos liberados para consulta pública nos últimos tempos mostram um audacioso plano brasileiro para invadir à Guiana Francesa pelo Amapá. Uma reunião entre o presidente Jânio Quadros e o governador Moura Cavalcanti para discutir a ação militar foi realizada e tropas foram enviadas à fronteira. A França retalhou e também mobilizou tropas na região da Guiana, além de embarcações da marinha. As ameaças e exercícios militares duraram quase 10 meses, entre 1962 e 1963.

O auge da quase guerra aconteceu em fevereiro de 1963, quando o governo brasileiro voltou atrás de uma autorização, por pressão popular, para que embarcações francesas realizassem de novo pesquisas no litoral brasileiro sobre o crustáceo. Anteriormente, os barcos rivais já haviam usado esta justificativa e foram flagrados realizando pesca predatória. Ainda assim, os franceses desrespeitaram a negativa e entraram em águas brasileiras. Após isso, a corveta brasileira Ipiranga apreendeu um pesqueiro francês e o governo de Charles de Gaulle enviou uma embarcação militar. Depois de meses de negociações, a França decidiu retirar seu navio de águas brasileiras.

O curioso caso da Guerra da Lagosta, como ficou conhecido, terminou com a vitória brasileira, mas sem disparar um só tiro. O país venceu impondo seu poderio naval, além da diplomacia. O grande problema é que as embarcações brasileiras apresentavam diversos problemas estruturais e técnicos, mas o governo francês não tinha conhecimento destas informações. Naturalmente, o Brasil possuía mais militares e embarcações na região do que a França, porém o país europeu poderia mobilizar tropas em até uma semana.

Ao final da batalha, o presidente "de Gaulle" falou sua emblemática frase "Le Brésil n´est pas un pays serieux" (O Brasil não é um país sério, em português)". Ele se referia ao fato do governo brasileiro ter voltado atrás da sua autorização inicial para liberar pesquisas francesas sobre o crustáceo.

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