ITARANTIM - BAR SOMBRA DA TARDE: SERIE CULTURAL DO BLOG CRONICAS DE ITARANTIM - PARTE 1



A cultura e as tradições de uma cidade por muitas vezes passa despercebidas aos olhos das pessoas, os lugares se tornam tradição por algum motivo de reconhecimento da comunidade e não porque força a ser é o envolvimento de muitos elementos que constrói a identidade cultural do lugar. Toda forma de cultura, digo, reforça nossa identidade cultural/local e cria vínculo com a sociedade. A cultura de alguma forma é vida e expressa o sentimento de uma sociedade, seja local, regional ou em instâncias maiores.
A série de matérias que começamos fazer este ano com o objetivo de mostrar pontos culturais de nossa cidade desembarca hoje no mais tradicional, podemos dizer assim, bar da cidade, o Bar de Edson de Dunga, o Bar Sombra da Tarde. Nessa série de matérias, essa especificamente, há o depoimento de Dunga e algumas pessoas que ali frequentam, como poetas populares, gentes que vão lá para apenas beber e falar sobre política e outros nem tanto, mas de alguma forma essas personalidades deixam o cenário mais rico e romantiza a ideia naquilo que é a dimensão e a proposta do ambiente. Isso deixou a matéria mais poetizada.
Contar um pouco da história do bar é falar de alguma forma de cada canto desta cidade e um pouquinho de cada um morador de Itarantim que neste espaço um dia frequentou, quem visita o espaço percebe logo que, ali é um museu de variedades, de novidades e de muitas coisas que fazem parte da história da cidade e que fica exposto como um território sagrado. Há uma tradição que, quem vai ao bar de Edson, sempre deixa algo para ser lembrado, por isso que há um acervo desde peças antigas como celulares, telefones, objetos que muitos desconhecem e fotografias que compõe a história de Itarantim. Há também materiais e objetos que não fazem parte da cultura local que foram trazidas de fora, de outras regiões, onde, segundo Edson, quando ele fazia viagens em regiões do Brasil de forma especial às regiões do sertão, ele trazia sempre algo porque achava interessante para compor a ornamentação de um espaço que ele já pensava em montar.

Mas vamos voltar um pouco no tempo, voltar aos idos de 1977, ano em que o Brasil vivia um período chamado “anos de chumbo”, tempo em que o país vivia uma ditadura militar e as liberdades individuais não eram asseguradas e direitos políticos dos cidadão eram caçados. O presidente era Ernesto Geisel. Em Itarantim a cidade estava sobre o comando de Florindo Dantas, era o tempo que apesar de vivermos uma repressão em todo país, mas aflorava de alguma forma vários grupos culturais fomentados com as ideias do movimento tropicalista, músicas com letras subversivas e uma turbulência de uma juventude que clamava por liberdade.
Também era o tempo das marchinhas, nessa época em Itarantim a disputa política de ambos os lados cantavam suas marchinhas que era geralmente zoando ou falando de uma situação. Recordo-me da vassourinha, uma marchinha popular muito tocada na época em todo país, mas que foi criada uma versão local, “Varre varre Vassourinha… vai varrer a prefeitura”… É aqui neste momento da história de Itarantim que o senhor Dunga, pai de Edson de Dunga abre uma pequena venda numa rua ainda sem nenhuma estrutura. Dunga era um visionário e tinha certeza que doravante aquele bar iria entrar para a história da cidade fazendo parte do contexto social, cultural e político da cidade de Itarantim.
A morte de Dunga pouco tempo depois do bar aberto foi um desafio para Edson que viu ali a continuidade e a extensão do projeto do pai e do que ele queria, mas também surgiram muitas dificuldades e uma delas foi o telhado que desabou, Edson teve que refazer toda a estrutura do bar. Aqui começa uma nova historia. Sempre irreverente com as pessoas, o bar começa a atrair muita gente na época e de alguma forma as pessoas começaram a trazer lembranças, presentes para que os mesmos ficassem expostos no bar, com isso aos poucos o espaço foi tomando forma lotado de objetos. Variedades e bugigangas que de alguma forma tinha muito valor sentimental para as pessoas que queriam deixar ali para lembrar no futuro.
Em suas viagens ele (Edson) também trouxe muitas coisas representando outras culturas, outras ele ganhou de presente, algumas até mesmo estranhas, outras conhecidas que fazem parte da cultura nossa. O bar de Edson é um cantinho cultural de todas as regiões do Brasil, de alguma forma quem vai lá se sente representado seja politicamente, culturalmente e também religiosamente. Edson é devoto de Nossa Senhora Aparecida onde sobre o balcão do bar tem uma imagem dela que, segundo ele de lá não sai.
Hoje o bar Sombra da Tarde se tornou ponto cultural na cidade, os que lá vão, fala da cerveja mais gelada da cidade e segundo Edson, o segredo dessa cerveja bem gelada é não ter pena de gastar energia. O ambiente ainda guarda um espaço bem particular masculino, o banheiro, é bem confortável e forrado de imagens de modelos famosas que pousaram para revistas masculina de circulação nacional.
O bar Sombra da Tarde fica aberto todos os dias, aos sábados e domingos e é local de interesse da cidade, lotando o espaço. Algumas personalidades já fazem parte da história do bar, são pessoas frequentadoras assíduas que seguem religiosamente marcando presença. Para acompanhar a boa cerveja gelada, agora tem os serviços de Beto Manchinha servindo o espetinho acompanhado de uma boa farofa com vinagrete.
Edson se tornou uma espécie guardião deste espaço místico e atraente. Não é apenas um bar, é a história viva de um povo e de uma cidade. O bar carrega uma história

Talvez invisível por boa parte da sociedade. Mas a história, alguém sempre irá contar, porque história é povo, é memória e além de tudo é um legado.
Conheça as histórias dos pontos culturais de nossa cidade assim você acaba conhecendo um pouco da história de Itarantim. O Bar Sombra da Tarde faz parte da evolução da cidade que junto com ela faz parte de seu povo e suas tradições.

Por Joabes Rodrigues - Editor do Site Crônicas de Itarantim
 Segue depoimentos:



Por Joabes Rodrigues, editor do site.

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