Por José Alves Nunes
O resultado das urnas – quando amparado nas regras estabelecidas pela justiça eleitoral – deve ser respeitado sempre, por ser a vontade soberana do povo. Contudo, algumas lições trazidas pelas urnas requer tempo, análise imparcial e fundamentada para serem compreendidas como devem ser. Fazer uma leitura correta e “sem os ismos” ajudam a compreender as informações mais relevantes das urnas. Uma dessas informações é que não teremos mulheres eleitas no executivo e legislativo da nossa cidade. Esse resultado é um forte “golpe” não só para as mulheres, mas para todos os seguimentos da nossa sociedade.
Enquanto no Brasil aumentou o número de mulheres eleitas em 2020, Itarantim preferiu ir na contramão da história. Esse triste quadro é uma derrota da sociedade e daqueles que lutam por uma cidade mais igual. Mais. É uma derrota direta das mulheres (todas elas) que não participarão e não terão representação eleita nas duas principais esferas de poder do município.
Algumas cidades vizinhas elegeram prefeitas, vice prefeitas e vereadoras, os “eleitores e eleitoras” de Itarantim preferiram dizer não às mulheres. Esse quadro negacionista não pode e não deve ser um fim em si mesmo, mas meio para ser compreendido e enfrentado coletivamente. Ao longo dos próximos quatro anos é necessário e urgente compreender a não eleição das mulheres em nossa cidade como um grande desafio para todos nós que sabemos a importância de suas inserções na sociedade contemporânea.
Para tanto, é importante levantar indagações destemidas para tentar entender o real motivo e consequências da não eleição das mulheres. Será que as mulheres preferem ser governadas ou lideradas por homens? Será que a cidade ainda é patriarcal e machista? As mulheres foram sabotadas nas urnas pelas próprias mulheres?, Ou foram os homens que as sabotaram? Os homens representam melhor as mulheres na política? Ou será que os partidos políticos não deram às mulheres o mesmo apoio, o mesmo tempo e as mesmas condições dos homens?
Essas e outras perguntas por mais incisivas que sejam precisam ser feitas e investigadas para serem, posteriormente, respondidas. Nessa empreitada são indispensáveis a contribuição da escola, dos professores/professoras, das igrejas, lideranças religiosas, emissoras de rádio, sites, blogs, as redes e mídias sociais na busca destas respostas para contribuir na formação permanente da sociedade e do indivíduo.
Em Itarantim foram 10.763 votos válidos para vereadores. Destes, apenas 1.264 foram para as 41 mulheres candidatas. Diante do quadro de ausência de mulheres eleitas em nossa cidade as leis, as ações, os programas de governo serão determinados e executados por homens. Mesmo que algumas mulheres sejam indicadas (espero que sejam muitas) para o primeiro e segundo escalões do futuro governo, não resolverá o problema. As mulheres indicadas politicamente - diferente de eleitas democraticamente nas urnas – não terão autonomia plena e o poder da caneta na hora das decisões. Em nossa cidade a maioria dos eleitores/ELEITORAS, infelizmente, disseram não querer as mulheres no poder.
Segundo Hannah Arendt “toda dor pode ser suportada se sobre ela puder ser contada uma história”. Que a ausência de mulheres eleitas nas urnas em 2020 não seja um fim em si mesmo, mas um meio para um fim diferente e melhor. Nesse meio, todos nós teremos o desafio de aprender, a partir da formação, a importância das mulheres nas esferas de poder do município.
* José Alves Nunes é Bacharel Licenciado em Filosofia pela PUC-Minas e Filosofia da Educação pelo ISTA
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