O Professor(a), em sua Dimensão mais Profunda, é um(a) Autêntico(a) Naturalista

"(...) Ao entrar na casa do camponês e colocar os olhos na águia domesticada, o Naturalista diz: “Esse pássaro aí não é galinha, é uma águia”. Diante da truculência medíocre do camponês, ele permanece firme em sua convicção: Ela é e será sempre uma águia. Pois tem um coração de águia, e esse coração a fará, um dia, voar às alturas”.

O(A) Professor(a), em sua dimensão mais profunda, é um(a) autêntico(a) Naturalista, que enxerga o aluno sempre como águia — especialmente aquele que foi negado, subjugado e domesticado no âmbito familiar, escolar e religioso. Enxerga nele para além da aparência imediata e sabe que, mesmo fragilizado, é um ser em potência.

O mais maravilhoso é que o(a) Professor(a) Naturalista percebe que muitos de seus alunos já não têm consciência de que são potencialmente infinitos. Após tanto tempo vivendo “domesticados”, é difícil continuar acreditando no próprio potencial.

Despertar, no ser domesticado, sua consciência adormecida não é tarefa fácil e requer muita habilidade — mais habilidade que competência, mais jogo de cintura que “força bruta”, mais compreensão que enfrentamento. Porque, assim como aquela ave foi destruída de dentro para fora, o processo de reconstrução será também de dentro para fora, mas igualmente de fora para dentro do ser totalmente domesticado.

O(A) Professor(a) Naturalista, diferentemente do professor camponês, jamais deixa de acreditar no aluno. Sabe que, na vida de alguns, somente um milagre é capaz de transformá-los — mas, ainda assim, não deixa de fazer sua parte, aquela que lhe cabe no processo libertador do outro plenamente negado.

O(A) Professor(a) Naturalista não desiste após “tentativas malsucedidas”, mesmo quando mal vistas e criticadas. É, por natureza, determinado e sempre repete para si: “Amanhã tentarei novamente.”

Não se abate diante do que falta à escola, nem dos problemas de seus alunos; assume-os como seus, mesmo quando não o são. Não se deixa sufocar pelas dificuldades, pois é uma fonte de esperança e gratuidade. O pensador Leonardo Boff o definiu da seguinte forma: “É um ser concreto, situado, mas aberto. É um ser em potencialidade permanente. Sonha para além daquilo que é dado e feito. E sempre acrescenta algo ao real.”

O(A) Professor(a) Naturalista é capaz de devolver confiança aos seus alunos e libertá-los de seus cativeiros internos, porque carrega em si a leveza do ser e do conviver. Sabe, o tempo todo, que seus alunos nasceram para voar alto e realizar sonhos grandes e geniais — mesmo que, em alguns momentos, demonstrem o contrário.

Nenhum outro é capaz de realizar tal feito, exceto o(a) Professor(a) Naturalista, porque não se dá por vencido enquanto o aluno não abandonar a condição imposta de domesticado, para alçar voo de águia.

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*Texto extraído do livro O Camponês e o Naturalista, do escritor José A. Nunes. Publicado pela Uiclap e pela Amazon, pp. 95–106. O CAMPONÊS E O NATURALISTA ⋆ Loja Uiclap

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