Como previsto, Dilma Rousseff foi ungida neste sábado (20) candidata do PT à sucessão presidencial.Aclamaram-na depois que Lula, seu mentor e cabo-eleitoral, “pediu” aos cerca de 1.300 participantes do 4º Congresso do PT que aprovassem o nome dela.Lula ironizou a própria supremacia: "Me deram uma tarefa extremamente difícil: vir aqui para convencer vocês a votar na Dilma".O presidente tentou arrancar de Dilma o rótulo de candidata do Lula. Referiu-se a ela como candidata do PT e das legendas aliadas. Michel Temer (PMDB) e Cia. lá estavam para atestar. Embora Dilma não tivesse adversários internos a superar, o PT fez questão de seguir o figurino. O nome dela foi, por assim dizer, submetido a voto.Empossado na véspera, o novo presidente do PT, José Eduardo Dutra, pediu aos correligionários presentes que erguessem os crachás. Decisão unânime, proclamou.
Eis o que prevê a lei eleitoral:
1. Autoridade de governo que queira disputar a eleição deve, antes, pedir exoneração do cargo. Tem até 2 de abril para fazê-lo.
2. Os partidos políticos escolherão seus candidatos em convenções no mês de junho.
3. A campanha só começa no dia 5 de julho.
Ou seja, Dilma tornou-se candidata formal do PT antes mesmo de deixar a equipe de Lula. Pode? A rigor, não. Porém...
Porém, até o início de abril, quando Dilma vai se despedir da Casa Civil, a candidatura dela vai viver num mundo de faz-de-conta.Dutra, o novo mandachuva do PT, esclarece: Dilma ainda não está em campanha eleitoral.
Você poderia perguntar: Mas por que, então, essa pajelança toda? E Dutra: “Este não é o lançamento da candidatura. Vamos obedecer à lei eleitoral”.
Assim, no mundo de faz-de-conta, Dilma não é candidata, você é que é meio maluco. Atenção: aquela mulher que você vai ver ao lado de Lula nos próximos pa©mícios ainda é a ministra.Dutra acha que haverá reação: “O partido não vai se surpreender com as ações da oposição no TSE”. Mas não parece preocupado. Natural.A Justiça Eleitoral já se incorporou à paisagem desse país das maravavilhas em que só há não-candidatos. Nesse filme, o TSE faz o papel de um velho cego.Ao discursar, Lula deu curso à campanha que, no mundo ao seu redor, ainda não começou. Pespegou nos críticos de Dilma a pecha do preconceito:
"O maior preconceito contra a companheira Dilma não é pelos defeitos dela e sim pelas qualidades. E pelo fato, em primeiro lugar, de ela ser mulher...”
“...Embora tenha na Constituição a garantia da igualdade entre gêneros, a verdade é que a mulher ainda é tratada como se fosse um objeto de segunda classe”.
Emocionada, Dilma pronunciou o discurso inaugural de sua não-campanha. “Recebo com humildade essa tarefa [...], mas com coragem e determinação”.
Enrolou-se na bandeira da continuidade: "Vamos manter e aprofundar aquilo que é a marca do governo Lula: seu compromisso social", ela disse.
Sorriu para o mercado: "Vamos manter o equilíbrio fiscal, o controle da inflação e a política de câmbio flutuante".
Envernizou o passado guerrilheiro e rendeu homenagens à democracia: "[...] Preferimos as vozes dessas oposições -ainda quando mentirosas, injustas e cauniosas- ao silêncio das ditaduras".
Arrematou assim o discurso: "A tarefa de continuar mudando o Brasil é de milhões. Somos milhões. Vamos até a vitória, viva o povo brasileiro".
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