Acabou a novela da aquisição de 36 caças pela Força Aérea Brasileira. Lula e o ministro Nelson Jobim (Defesa) decidiram comprar o avião mais caro.
Escolheram os caças Rafale, do fabricante francês Dassault, último colocado num relatório técnico que a Aeronáutica havia elaborado.
Refugaram duas propostas que apresentavam preços mais em conta: a do Gripen, da sueca Saab, preferido da FAB; e a do F-18 Super Hornet, da norte-americana Boeing.
Com essa decisão, Lula mantém o compromisso que assumira com o presidente francês Nicolas Sarkozy, que visitara o Brasil em setembro do ano passado.
Deve-se a revelação à repórter Eliane Cantanhêde. Em notícia veiculada pela Folha, ela informa:
1. Lula e Jobim optaram pelo Rafale depois que a Dassault reduziu o valor da proposta que apresentara ao governo brasileiro.
2. O preço dos 36 caças caiu de US$ 8,2 bilhões (R$ 15,1 bilhões) para US$ 6,2 bilhões (R$ 11,4 bilhões).
3. A despeito da poda, o Brasil pagará pelos aviões franceses mais do que pagaria se optasse pela compra dos caças suecos ou norte-americanos.
4. A sueca Saab orçara os seus Gripen em US$ 4,5 bilhões. Ou seja, o preferido da FAB sairia 40% mais barato do que os Rafale.
5. A Boeing cobrara US$ 5,7 bilhões pelos 36 caças F-18 Super Hornet que desejava fornecer ao Brasil.
6. A redução de US$ 2 bilhões na proposta da França foi obtida em negociação concluída no último sábado.
7. Nesse dia, Jobim fizera, no retorno de uma viagem a Israel, uma escala em Paris. Reunira-se com o embaixador brasileiro na França, José Maurício Bustani.
8. Foi a Paris também, para tomar parte das negociações, o secretário de Economia e Finanças da Aeronáutica, brigadeiro Aprígio Azevedo.
9. No relatório que a FAB concluíra em dezembro do ano passado, o Rafale não superou os concorrentes em nenhum quesito –nem financeiro nem técnico.
10. Em janeiro, Jobim dissera que reavaliaria os critérios da FAB. Pretendia alterar o sistema de pesos adotado no documento, de modo a alterar-lhe o resultado.
11. Jobim desistiu da alteração depois de verificar que os critérios da FAB, por rígidos, não comportavam a mexida. E os Rafale permaneceram em último.
12. Apesar do estudo que consumira dez meses de trabalho dos técnicos da Aeronáutica, Jobim foi a Lula, há dois dias, para justificar a opção pelos Rafale.
13. Depois da reunião que ratificou a decisão que o presidente já havia tomado há cinco meses, Jobim comunicou a batida de martelo ao comandante da Aeronáutica, brigadeiro Juniti Saito.
14. Relatos obtidos pela repórter dão conta de que Saito ficou "desolado". Mas não lhe restou senão acatar a decisão política de Jobim e Lula.
15. A opção pelo mais caro, concluiu o governo, tem amparo constitucional. O Congresso terá de aprovar os financiamentos. O TCU checará as contas. Mas, uma vez assinada, a decisão é de difícil reversão.
16. Como justificar o fato de o governo ter rebarbado os caças que a Aeronáutica considerara mais adequados e que ostentavam preços mais baratos?
17. Eis o que dirá o governo, segundo a repórter Cantanhêde: O F-18 é americano e o Gripen NG tem componentes dos EUA, como o motor...
...Ambos deixariam o Brasil em posição vulnerável. Por quê? Os EUA já impediram a Embraer de vender os aviões Super Tucano à Venezuela por terem peças americanas.
E quanto ao sueco Gripen? Jobim dirá que o avião "é só um projeto" e reúne peças de diferentes países.
E daí? Pela justificativa oficial, isso poderia exigir múltiplas negociações para revenda internacional.
18. Por mais que se tente justificar, a decisão vai produzir barulho. É certo como o nascer do Sol a cada manhã.
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